domingo, 30 de setembro de 2012

Pensamento solto

Ouça enquanto lê...

É pecado morrer numa janela durante a noite enquanto a sua música toca?
É pecado pedir um pouco de paz, ausência, silêncio, beleza, amor? Pedir clareza, certeza, inteligência, menos oportunidades de uma vez? Decisão?
Vale a pena sofrer, quando o que te faz sofrer sofre junto com você? Ou é melhor que se sofra sozinho?
Aliás, isso é sofrer de verdade? Porque pessoas que realmente passam fome até a morte, que passam sede, paleativos, abandonados, sofrem. Já que não existe outro nome pra esses sentimentos um tanto quanto passageiros que batem no peito e saem pela boca, pelos olhos, pela mão, acho que ainda é sofrer.
E se eu disser que é pecado sim, você morrer na sua janela com sua música, uma vez que você deseja isso e definha até conseguir? Pelo menos vai ter a sua ausência, o silêncio. Vai estar tudo decidido, será certo. E não haverá nenhuma oportunidade que esteja em sua decisão, como eu disse, já estará tudo decidido.
A sua música vai tocar e você não vai ouvir.

O complicado é que não compete tanto a nós. É o que sentimos. Não se controla, não se pede pra sentir. O sentimento vem, você querendo ou não. Você pode tentar controlá-lo. Mas ele vai continuar existindo. A angústia vai bater toda vez que seu filho sair de casa, mesmo que ele diga que "está tudo bem, mãe. Vou ter juízo!". A saudade vai bater toda vez que suas férias acabarem e você tiver que dizer "tchau, minha irmã. Daqui a um ano eu volto para nos vermos." A solidão vai sempre bater quando você ligar pro seu melhor amigo e chamá-lo pra um chopp ou pra ficar com você dentro de casa porque o dia está nublado, sua vida está nublada e ele nem atender o telefone porque está viajando com a esposa. Você não vai odiar seu chefe ou as leis trabalhistas por te impedirem de ver sua irmã, nem o seu melhor amigo por ter se casado e, muito menos, o seu filho porque ele saiu de casa. Você vai sentir isso tudo. Mas você escolhe se seu filho sai ou não, se liga pro seu amigo ou não, se volta a trabalhar ou não.

E aí? Você vai morrer todas as vezes que se sentir angustiado, solitário ou com saudade? Pode até morrer, desde que ao final da música ou quando a chuva parar de bater a janela, você volte. Assim, você consegue a inteligência que tanto pedia. Deixando-se sentir o que seu corpo produziu, mas sem deixar que tome total conta de você. Talvez você encontre a beleza de um arco-íris, se esperar um pouquinhozinho depois da chuva.

Mas ainda lhe faltam clareza e amor e também as oportunidades não-extremistas.
Ora, você tem a oportunidade de ir pra janela. A oportunidade de definhar. De ajudar os que passam fome, sede, os paleativos e os abandonados, embora você esteja sofrendo. Só perceber que eles sofrem mais e seu sofrimento se esconde de vergonha. Vai ficar claro pra você que você não é nada. É só o menino que sofre sozinho sentado na janela, olhando pro nada e de cabeça vazia.

Quanto ao amor. Amor é natural. Deixe que ele te ache. Quando te achar, não voltes mais para aquele lugar que eu já esqueci o nome.
A menos que seja um dia ensolarado. Porque se for, você pode ficar lá esperando ele passar e descer correndo a tempo de chamá-lo para uma xícara de chá no jardim, antes que comece a chover.
Mas enquanto chove, só espere que ele te ache!

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