domingo, 11 de dezembro de 2016

Entre um coração e um cérebro


São um coração e um cérebro que não se comunicam. Um vagueia sem saber por onde e outro pulsa sem saber por quê. Não se pensa no que se sente e não se sente o que se pensa. Isso porque não se comunicam.
Vai batendo assim, doído, apertadinho, afogando o peito, deixando o corpo inerte, jogado em qualquer lugar que passe uma brisa, passem nuvens em formato de elefante, girafa, vinho tinto e rosas vermelhas.
E imaginar tudo isso em nuvens não é um trabalho muito difícil, considerando que não há nada concreto para se pensar. Nem mesmo nada tão concreto quanto o mais abstrato dos sentimentos – o amor, que posso dizer que tenho.
E isso tudo porque não se comunicam.
“Se me dissesse por quê bate assim, saberia te dizer racionalmente ‘não vá por esse caminho.’ É isso que eu faço, mesmo.”
“Mas se me dissesse amorosamente acerca de tudo que está acontecendo ao seu redor, eu saberia bater por motivos mais importantes, com mais força. E sentiria melhor os elefantes, as girafas, as rosas vermelhas e o vinho tinto que você enxerga nas nuvens.”
Caso se comunicassem, eu poderia (talvez) levantar meu corpo e achar nas nuvens, elefantes que sejam coloridos, girafas sem pescoço, vinho branco seco e rosas amarelas – você já sentiu o cheiro das rosas amarelas?
Mas assim seria em apenas uma condição. Se se comunicassem.

Então vou me mantendo aqui, perdido no meu quarto, sentindo uma brisa, vendo o tempo passar, aguardando um diálogo abstrato e racional entre um coração e um cérebro que não conversam, que vagueiam sem saber por onde e pulsam sem saber porquê.

domingo, 15 de maio de 2016

Saudade

Ouça enquanto lê...

Essa é uma palavra doída.
Às vezes, não sai da boca; às vezes, não sai do peito.
Às vezes, conseguimos com um simples telefonema sanar tamanha dor que tal palavra traz.
Às vezes, morrer parece a solução.

Uma palavra que consegue sair do estômago e escapar pelos olhos,
pela voz,
pelas mãos...

O peito vai apertando, como se respirar fosse impossível.
Os olhos se enchem, mas nem existem mais lágrimas pra caírem.
Não se consegue parar de chorar, mas nem se quer parar de chorar.
A vontade que se tem é de se contercer e gritar.

Será que o grito é capaz de chegar ao seu ouvido?
Será que você saberia a importância que tem pra mim, caso eu pareça um louco gritando e chorando a mil quilômetros de distância, ou talvez a uma distância impossível de ser calculada?
Vou sofrer sozinho em vão, então?

Eu não sei mais terminar isso aqui.
Talvez tenha perdido um pouco a prática da escrita.

Então, aqui no fim, vou só dizer que vocês fazem muita falta.
Que de vez em quando eu choro baixinho, calado, sem nem ninguém saber...
Minha saudade é tamanha que mil anos não seriam suficientes.
E meu medo é de chegar o dia em que vou sentir uma saudade que jamais será acalentada.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Sampa

Ouça enquanto lê...

Ha... É estranho como a vida brinca de "pegadinha do malandro".
Hoje (três dias atrasado), venho comentar sobre meu um ano em São Paulo.
Confesso, Caetano, que "quando cheguei por aqui eu nada entendi das duras poesias concretas 'dessas' esquinas" tão cheias de vida, de fumaça, de cinza e de história.
É... cada uma delas tem uma história pra contar. E uma (ou umas) delas conta a minha.
A tal cidade grande que dizem ser inabitável, assustadora, onde não há amor. A tal cidade grande que eu mesmo, por mil vezes, vim a passeio e dizia "é ótima para passear, mas jamais morarei lá". "Ié-ié", disse a vida... e veio brincar, de novo, de ser malandra.
E achei, Caetano, em meio a "feia fumaça que sobe apagando as estrelas", pessoas que me disseram que existe, sim, amor em esse pê.
Me tornei o "povo oprimido nas filas" e encarei esse mundão. E não me vejo mais sem essas avenidas que fazem "algo acontecer em meu coração".
Um ano após minha chegada, novamente sem destino, sem amarras; mas mais que nunca, sem amarras. Posso ser livre, posso voar por onde quiser e sinto que vou. Batendo minhas asas de pouco em pouco, vou em direção ao mais alto dos céus, com um pouco de medo de cair, mas sabendo que eu devo seguir.
"Venha comigo", eu digo a quem converso. Olha como faz pra ser um "poeta de campos e espaços".
Mais uma vez, "gratidão" fecha meu sentimento. Impossível não reconhecer quem me trouxe até aqui, quem me manteve aqui e quem vai me levar daqui pra frente. Sempre pra frente.
E hoje, sou mais feliz. Cheio de saudades nas malas. Cheios de memórias, que continuam fazendo parte de mim; mas sou eu.
E hoje, posso dizer "já que 'os Novos Baianos passeiam em tua garoa, 'Novos mineiros' te podem curtir numa boa.'"