quinta-feira, 19 de março de 2015

Fim de passeio

Ouça enquanto lê

Era como se subíssimos as árvores folhosas, só pra descer em suas folhas verdes.
Subindo pelo seu tronco, desde a raiz, escolhendo as melhores ranhuras, até encontrar o galho mais alto, do qual teríamos coragem de nos jogarmos.
Lá, bastava escolher a folha. Era só subir em cima e dar uma chacoalhada.
A folha se desprenderia...

E viria planando, pegando aquela corrente de ar, aquela brisa.
Os nossos rostos, ora iluminado pelos raios de sol de  um dia lindo, ora escuros pelas sombras das outras folhas, se encheriam de felicidade.
E, segurando na folha, vamos até o chão... Fim de passeio.
Sem problemas, afinal, é uma árvore folhosa.
Basta voltarmos à raiz e subir de novo.

Mas o outono chegou.
Todas as folhas já estão amarelas,
ou vermelhas,
mas no chão.
E se subirmos, não temos como descer.

Te chamei. Você não veio.
Eu subi sozinho e só tem um jeito de descer:
Sozinho.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Dançando no escuro

Eu vi o tempo passando em frente aos meus olhos.
Vinha dançando um tango argentino.
As notas que saíam dos violinos eram seu par.
E se esbarravam nas paredes
E tropeçavam nos buracos do chão.
As luzes, piscando, brincavam com as cores
e depois saíram pra jantar.
Deixaram a vida acontecer,
ao passo que a cada passao davam um passo,
dois ou três, seguindo a batida do tango argentino.
No jantar das luzes foi servido vagalume
e os pássaros vieram comer.
As asas batiam,
os bicos abriam e fechavam,
as penas voavam e seguiam a corrente do vento.
As correntes que amarravam o tempo.
Que acabou por conseguir se desprender.
O tempo, que passou pelos meus olhos
e até agora dança com as notas violinas
que saem do tango argentino.