segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Pelas árvores

Ouça enquanto lê

É que tocava uma valsa ao fundo.
De repente olhou pro céu e viu todas as estrelas dançando. E resolveu dançar junto com elas.
Sorria como se fosse o ápice de sua vida.
As estrelas passando lentamente de um lado para o outro, como se sorrissem de volta, enquanto ele cantava a canção que ouvia.
Daí então, o chão resolveu ajudar e se tornou escorregadio.
Era liso, feito gelo.
E, sem patins, patinava a valsa interminável.
Ela chegou, como se viesse do além.
Os dois deram as mãos e foram se balançando de um lado para o outro, repetindo a canção que dizia:
"And the lights are low."
Quando a letra se findava, se jogaram ao chão de neve.
Fizeram daqueles anjos.
Deitados, ainda, ela pegou um pouquinho de neve e jogou na cara dele.
Os dois riram muito.
E, como se possível, olharam os flocos de neve caindo, enquanto viam as estrelas tomarem suas posições de origem, ainda sorrindo.
Ele olhou pro lado e só pode ver a sombra dela passando pelas árvores.
Ela já havia voltado sabe-se lá pra onde.

Quando percebeu, havia chegado em casa. Abriu o portão. Tirou seus fones. E entrou.
Sabia que nada era real. Mas a imaginação bastava. A sensação de valsar junto com as estrelas bastava.

A neve que encontrou em seus sapatos quando entrou bastava.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A meu modo

Tem certas vezes na vida que a gente para pra pensar em nós mesmos.
Algumas pessoas até que fazem isso o tempo inteiro. Mas eu não costumo pensar no meu modo de agir, de pensar. Apenas ajo, apenas penso. E quando dá na telha eu reflito sobre a forma que agi e pensei sobre as coisas.

O que acontece é que eu tenho um jeito peculiar de gostar das pessoas e de me irritar com elas, às vezes até mais do que deveria. É peculiar, e egoísta eu diria, a forma como eu exijo das pessoas que elas sejam outras pessoas. Eu implanto nelas características que nunca foram delas. Recolho o que faz parte de suas essências. Ou pelo menos, desejo isso profundamente. Penso e peço incessantemente que elas se mudem. Que elas continuem. Manipulo, manipulo mesmo, manipulo com força. Ou pelo menos tento.
Nem sempre as pessoas querem conversar, nem sempre estão bem. Nem sempre elas gostam de você como você dela. Mas eu exijo sempre que sejam iguais a mim, que se importem com as mesmas coisas. Que busquem as mesmas coisas. Que tenham os mesmos gostos. Que gostem de mim. Eu exijo isso.

Quão doentio é, por exemplo, ficar bravo porque não veio falar comigo durante a tarde? Quão doentio é, meus caros, pedir a toda hora que atenda o seu clamor? Quão doentio é pedir que sejam todos assim, a meu modo?

Eu só espero que eu entenda que cada um é de um jeito. Espero me desligar dessas coisas. Espero que cortem isso de mim. Espero que corte, eu mesmo, isso de mim.
Espero por você, numa tarde qualquer, pra uma papo e um café.

Mas cuidado, esperar cansa.