domingo, 22 de dezembro de 2019

Simplesmente, assim

Ouça, enquanto lê.

Querido diário,

Hoje, sonhei com ele.
Ah, como foi bom.
Eu me sentia bem inseguro ainda. Agia com dedo para não feri-lo, não machucá-lo. Não afastá-lo de mim.
Mas estava tão gostoso.
Eu não podia deixar de sorrir.
Com meus olhos, minha boca, meu corpo, eu sorria.
Sorria até com a alma.

Ele estava junto comigo.
Eu deitei sobre seu peito.
Em outro momento, deitamos de lado, abraçados.
Minha mão agarrando o peito dele.

Era tudo o que eu queria.

Mas, no fim, eu acordei.
Eu juro que rezei pra dormir de novo e voltar para o mesmo sonho.
Não deu.

De novo, eu me vejo sem ele.

E foi isso.
De maneira bem direta.
Um desabafo superficial, que carrega sentimentos bem profundos.
Sem meus devaneios, delirios.
Sem jogo de palavras.
Sem todas aquelas sentimentalidades ou ênfases poéticas que eu gosto de escrever.
Assim. Simplesmente, assim.

E é como diz a música:
"Te tenho em sonhos. E somente eu sei  o quanto eu esperei. Vem me tirar dessa prisão de somente te ter se eu sonhar outra vez."

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Léxico

Ouça, enquanto lê...

Uma vez, eu li uma frase que dizia "a língua portuguesa tem 435.000 palavras. E com nenhuma delas, eu consegui te fazer ficar". 
Me doeu, o coração, quando li. As palavras que sempre mexeram comigo e que sempre pensei serem minhas amigas, não foram suficientes pra te fazer ficar. E posso dizer que tentei até pegar algumas emprestadas de outras línguas. Apesar de estarmos falando de palavras, sei que lutei muito, sei que agi muito. Provavelmente, errei muito. 
Me peguei pensando que talvez eu devesse até ter inventado uma ou duas palavras novas e quem sabe, assim, você não iria embora. 
Mas, agora, no fim, acredito que isso não te faria ficar. Apenas serviria pra eu dizer que de 435.001 palavras, nenhuma delas te fez ficar. Ou 435.002 ou 3, ou quantas palavras mais eu tivesse inventado. 
Fica? 
Eu passo um café pra nós dois. 
Eu te faço um cafuné.
Você gostava tanto de mim. Não consigo acreditar que tudo se foi mesmo. Será que não sobrou um pouquinho de sentimento aí no seu coração? 
No meu, sobrou um buquê inteiro de sentimentos, pintados com o mesmo amarelo das rosas que te dei. 
Mas a cada dia, parece que me cai um caco novo, ao chão. 
E em quantos cacos devo partir meu coração até ter você de volta? Qual parte de mim te afastou assim? Te arremessou pra longe? Foi meu café muito doce? Ou o gosto da bala em minha boca, quando te beijei? Algum dos meus cacos te furou? 
Fica.
Volta!
Me ajuda a colar tudo. E fazer bater novamente, o coração que um dia eu te dei.

quarta-feira, 29 de maio de 2019

O mar e eu

Onde a calmaria se confunde com a ira
O fim com o começo
O amor com o ódio

Pra uns a chegada e pra outros a partida
Do lazer e da labuta
Da infinitude e da pequenez.

De coração geminiano,
Feito como o mar.
Pronto para amar.

terça-feira, 7 de maio de 2019

O vazio da lembrança

Ouça enquanto lê.

E meus olhos resistem. Não querem se fechar, não permitem que eu durma, enquanto não te tenho ao meu lado. Fico com meus pensamentos rondando por onde passamos e aonde chegamos. Revivendo memórias incríveis, momentos tão felizes, tão importantes, tão puros. Sinto meu corpo estremecer. Meu corpo sente a falta do seu. Meu ouvido busca a sua voz. E minha esperança te espera no portão, todos os dias. Meu sorriso se ensaia em frente ao espelho antes de sair de casa, para a hora que você chegar. Tento dizer a eles que não é hora ainda. Mas nem eu mesmo acredito nas minhas palavras. No fim, eu mesmo os encorajo a buscarem sua voz, te esperarem no portão ou se ensaiarem em frente ao espelho. Eu mesmo escolho a roupa que vestirão, os lembro de pôr um casaco e de pegar um guarda-chuva.

Mas me preparo em vão, todos os dias. E o que me agoniza e me conforta são mesmo os pensamentos e as memórias que me cercam. São eles que me fazem companhia (que meus travesseiros não me ouçam). Abraço-os – os pensamentos e os travesseiros – na esperança de te encontrar, procurando seu cheiro. Gosto de brincar que é nas suas pernas que estou dando nó. Ou que é no seu peito que estou deitando a minha cabeça. Chego até a acariciar um deles, pensando que poderia te fazer um cafuné.

Rezo todas as noites (ou a toda hora) por um momento melhor. Onde eu não seja velho, mas ainda seja jovem, com toda vontade de viver. E assim possa viver junto com você. Oro pela nossa felicidade. Que não sejamos cordeiros em época de caça. Mas que sejamos estrelas altas, lindas, brilhantes, que iluminam a escuridão. Que sejamos como as araras, a voar em pares. Que meus ouvidos encontrem a sua voz. Que seus olhos encontrem o meu sorriso. Que minha esperança te encontre no portão. E que meu corpo esbarre no seu.

Por fim, durante a minha oração, meus olhos que não aguentam mais, se desabam. Interrompem qualquer busca por você. Afastam todos os pensamentos e memórias lindas. E me deixam o vazio da lembrança, sem cheiro, sem cor, sem sorriso. Debulham-se. Minhas forças psíquicas, físicas e emocionais se esgotam. E antes mesmo que eu termine a minha oração e bem antes que eu te encontre, de tanto escorrerem, meus olhos, finalmente se fecham, e eu durmo.

quarta-feira, 27 de março de 2019

Só um bolero

Cerro-me, os olhos
e transporto-me.
Danço um bolero
e me entrego.

Fixo em teus olhos
e encontro-me.
Danço um bolero
e me desintegro.

Enxergo-te, sem olhos
e despedaço-me.
Danço um bolero
e me reintero.

Despedaça-me, os olhos
e reintero-te.
Danço um bolero,
e te enxergo.

Fixa-me, nos olhos
e desintegro-te.
Danço um bolero
e te entrego.

Encontro-te em meus olhos
e transporto-te.
Danço um bolero
e cerro-te.