quarta-feira, 29 de maio de 2019

O mar e eu

Onde a calmaria se confunde com a ira
O fim com o começo
O amor com o ódio

Pra uns a chegada e pra outros a partida
Do lazer e da labuta
Da infinitude e da pequenez.

De coração geminiano,
Feito como o mar.
Pronto para amar.

terça-feira, 7 de maio de 2019

O vazio da lembrança

Ouça enquanto lê.

E meus olhos resistem. Não querem se fechar, não permitem que eu durma, enquanto não te tenho ao meu lado. Fico com meus pensamentos rondando por onde passamos e aonde chegamos. Revivendo memórias incríveis, momentos tão felizes, tão importantes, tão puros. Sinto meu corpo estremecer. Meu corpo sente a falta do seu. Meu ouvido busca a sua voz. E minha esperança te espera no portão, todos os dias. Meu sorriso se ensaia em frente ao espelho antes de sair de casa, para a hora que você chegar. Tento dizer a eles que não é hora ainda. Mas nem eu mesmo acredito nas minhas palavras. No fim, eu mesmo os encorajo a buscarem sua voz, te esperarem no portão ou se ensaiarem em frente ao espelho. Eu mesmo escolho a roupa que vestirão, os lembro de pôr um casaco e de pegar um guarda-chuva.

Mas me preparo em vão, todos os dias. E o que me agoniza e me conforta são mesmo os pensamentos e as memórias que me cercam. São eles que me fazem companhia (que meus travesseiros não me ouçam). Abraço-os – os pensamentos e os travesseiros – na esperança de te encontrar, procurando seu cheiro. Gosto de brincar que é nas suas pernas que estou dando nó. Ou que é no seu peito que estou deitando a minha cabeça. Chego até a acariciar um deles, pensando que poderia te fazer um cafuné.

Rezo todas as noites (ou a toda hora) por um momento melhor. Onde eu não seja velho, mas ainda seja jovem, com toda vontade de viver. E assim possa viver junto com você. Oro pela nossa felicidade. Que não sejamos cordeiros em época de caça. Mas que sejamos estrelas altas, lindas, brilhantes, que iluminam a escuridão. Que sejamos como as araras, a voar em pares. Que meus ouvidos encontrem a sua voz. Que seus olhos encontrem o meu sorriso. Que minha esperança te encontre no portão. E que meu corpo esbarre no seu.

Por fim, durante a minha oração, meus olhos que não aguentam mais, se desabam. Interrompem qualquer busca por você. Afastam todos os pensamentos e memórias lindas. E me deixam o vazio da lembrança, sem cheiro, sem cor, sem sorriso. Debulham-se. Minhas forças psíquicas, físicas e emocionais se esgotam. E antes mesmo que eu termine a minha oração e bem antes que eu te encontre, de tanto escorrerem, meus olhos, finalmente se fecham, e eu durmo.