terça-feira, 29 de novembro de 2011

A Mucama

"Mova-te, pois, Mucama.
Não escutas o que tua ama te diz?
O que fazes parada aqui?"

Saiu, a mucama, desolada.
Pois mandaram-na buscá-lo.
O filho de seu senhor,
aquele que criara o hábito de se apaixonar por uma negrinha.

Pensava e matutava,
a pobre Mucama.
Como poderia haver,
sobre a mesma terra que ela pisava,
tal homem, tão desumano?

O amor lhe tira os olhos.
O amor lhe entrega ao fogo, às cegas.
O amor lhe faz proteger outrem,
arriscando a própria vida.

Descobrira, então, seu próximo passo.
Avisou o senhorzinho:
"Fuja fio, qui é pru sinhô, seu pai, num te matá!
Fuja, e leva tua formosura com vossemecê!"

Havia, portanto, coração mais nobre
dentro do senhorzinho que no senhor!
"Mas e tu, Mucama?
Como farás tu? quando ele souber.
Avisara-me, sem que me levasse a ele!"

"Sou véia, sei mi cuidá!
Vai, sinhozinho, antes que o capitão do mato o mate"
Saiu a galope, com sua formosura, o senhorzinho.

O senhor soube de tudo.
Seu filho já não existia,
pois outrora se apaixonara por uma negrinha.
E por ajudá-lo foi condenada, a Mucama.
Que protegeu o filho de sua ama.

Fizera o papel que a nobre mulher não teve coragem.
A Mucama, na simplicidade que tinha,
exercera, com coragem e bravura,
amor e compaixão,
o papel de mãe,
tornando-se assim, a verdadeira nobre mulher.
Mãe de um menino que ela vira nascer.

Por tal feito, foi condenada às chibatadas.
Soltava lágrimas pelo pelourinho,
sangrava pelo chão, onde fora parida.

E poderia haver até milhões.
Cansaria, o carrasco, mas não doeria na Mucama.
Pois tinha a certeza, havia feito a coisa certa.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Fogo de palha

Fogo de palha,
se alastra fácil.
Se apaga fácil.

Queima tudo que tem pra queimar.
Queima fácil.
E após queimar, se apaga.

Quero meu fogo de gasolina.
Meu fogo a lenha.
Que é menor,
mais calmo,
mais abrasador,
mais duradouro.

Duradouro...

Vou continuar cortando lenha.
Mesmo jogando palha para se queimar.
Mesmo vendo a palha queimar.
Porque fogo de palha
queima rápido
e se apaga fácil.

domingo, 27 de novembro de 2011

Sala de estar

Ouça enquanto lê!

Chegou em casa.
Viu tal cena.
Deveria ser entristecido.
Mas como se entristecer, vendo que partira em paz.

Sentado em sua poltrona,
de frente para o som.
Com seus pés inteiros no chão.
Seus braços sobre os braços da poltrona.
As mãos fechando, como se segurassem-na.
O som, ligado... tocando a mesma música.
Com o botão de repetir acionado.

A mesma música.
Partira em oração.
Em silêncio, calma... paz.

Apreciara o que quisera,
sabia que sua hora havia chegado.
E se foi.
Sem despedir.
Sem dizer tchau.

A luz que vinha de fora, mal batia na janela.
Não estava escuro, mas não estava claro.
Estava gostoso. Um clima de quem se prepara pra dormir.

Chamara-o, não atendeu.
Seu peito não subia, não descia.
Sua cabeça não se mexia.
Os olhos não abriram.

A cabeça está voltada pra cima, como quem apenas aprecia o som.
Os olhos estão fechados.
E o vivo acaba de achar, em cima da mesa,
um pedaço de papel.
Grafado recentemente, com uma letra antiga.

"Não tenho mais tempo. Chegou minha hora.
Adeus. Amo a todos!"

Ele, finalmente, deixa cair uma lágrima!
Vai ao banho.

E quando sair, vai se vestir de preto
porque hoje é dia de luto!

sábado, 26 de novembro de 2011

Complexo ou claro

Queria querer.
Mas só o querer não me faz querer.

Talvez o fato de eu querer querer já seja um começo,
pois se eu não quisesse querer, não me surgiria nem uma ponta de interesse.

Portanto, atente-se. Quem sabe eu já esteja querendo.
E nenhum de nós está sabendo.

Para alguns isso pode até ser um pouco complexo.
Mas pra mim, é mais do que claro!