
Não escutas o que tua ama te diz?
O que fazes parada aqui?"
Saiu, a mucama, desolada.
Pois mandaram-na buscá-lo.
O filho de seu senhor,
aquele que criara o hábito de se apaixonar por uma negrinha.
Pensava e matutava,
a pobre Mucama.
Como poderia haver,
sobre a mesma terra que ela pisava,
tal homem, tão desumano?
O amor lhe tira os olhos.
O amor lhe entrega ao fogo, às cegas.
O amor lhe faz proteger outrem,
arriscando a própria vida.
Descobrira, então, seu próximo passo.
Avisou o senhorzinho:
"Fuja fio, qui é pru sinhô, seu pai, num te matá!
Fuja, e leva tua formosura com vossemecê!"
Havia, portanto, coração mais nobre
dentro do senhorzinho que no senhor!
"Mas e tu, Mucama?
Como farás tu? quando ele souber.
Avisara-me, sem que me levasse a ele!"
"Sou véia, sei mi cuidá!
Vai, sinhozinho, antes que o capitão do mato o mate"
Saiu a galope, com sua formosura, o senhorzinho.
O senhor soube de tudo.
Seu filho já não existia,
pois outrora se apaixonara por uma negrinha.
E por ajudá-lo foi condenada, a Mucama.
Que protegeu o filho de sua ama.
Fizera o papel que a nobre mulher não teve coragem.
A Mucama, na simplicidade que tinha,
exercera, com coragem e bravura,
amor e compaixão,
o papel de mãe,
tornando-se assim, a verdadeira nobre mulher.
Mãe de um menino que ela vira nascer.
Por tal feito, foi condenada às chibatadas.
Soltava lágrimas pelo pelourinho,
sangrava pelo chão, onde fora parida.
E poderia haver até milhões.
Cansaria, o carrasco, mas não doeria na Mucama.
Pois tinha a certeza, havia feito a coisa certa.