sexta-feira, 30 de julho de 2010

Satélite terrestre

Hoje eu vi a lua sair tímida por detrás dos prédios.
Tão tímida que chegava a corar sob os olhares de todos que a viam subir.
E subindo devagar, ela ia perdendo o tom tímido e ganhando uma força interior, já não corava mais com aqueles que a viam, mas iluminava-os.
Iluminava-os de tal maneira que o mais rude se apaixonou, o mais agitado se acalmou e o esquecido se lembrou.
Se lembrou que uma noite estava a olhar a mesma lua, mas tanto ele quanto a lua estavam acompanhados e agora os dois estavam sozinhos.
Se lembrou que já se esquecia de alguém que o deixou ferido.
Por conta disso, seu coração se parecia com a superfície de sua companheira, como se tivesse sido travada uma batalha entre um dragão e um guerreiro.
A lua, distante e, agora, até mesmo fria, o curar não podia.
Não podia nem mesmo se curar, quanto menos ao seu pobre amigo, um dos muitos feridos que lá estavam.
Ah, se a lua fosse enfermeira! Os partidos corações apaixonados não derramariam mais as suas lágrimas.
Ah, se a lua parasse o tempo! Todos ali ficariam e esqueceriam suas mágoas.
Ah, se a lua fosse donzela! Até mesmo os boêmios desolados se casavam.
Ou quem sabe ela poderia ser apenas um sapo.
Já que todos apostam nela suas últimas esperanças, também as princesas de moribundo coração fariam os seus futuros.
Mas a lua, pobre lua, é apenas mais uma na imensidão de apaixonados, girando em torno de alguém com quem nunca vai se encontrar, sendo iluminada por quem nunca vai aquecê-la, e fazendo outros bobos apaixonados sonharem.
Sonharem com seus amores ou com a luz de seus amores que, na noite seguinte, retornará.
Talvez, esse seja seu segredo: nada ela pode fazer.
Apenas nos olhar.
O resto a gente decide!

Por: Gabriela Lessa
e Otávio Miziara

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