domingo, 11 de dezembro de 2016

Entre um coração e um cérebro


São um coração e um cérebro que não se comunicam. Um vagueia sem saber por onde e outro pulsa sem saber por quê. Não se pensa no que se sente e não se sente o que se pensa. Isso porque não se comunicam.
Vai batendo assim, doído, apertadinho, afogando o peito, deixando o corpo inerte, jogado em qualquer lugar que passe uma brisa, passem nuvens em formato de elefante, girafa, vinho tinto e rosas vermelhas.
E imaginar tudo isso em nuvens não é um trabalho muito difícil, considerando que não há nada concreto para se pensar. Nem mesmo nada tão concreto quanto o mais abstrato dos sentimentos – o amor, que posso dizer que tenho.
E isso tudo porque não se comunicam.
“Se me dissesse por quê bate assim, saberia te dizer racionalmente ‘não vá por esse caminho.’ É isso que eu faço, mesmo.”
“Mas se me dissesse amorosamente acerca de tudo que está acontecendo ao seu redor, eu saberia bater por motivos mais importantes, com mais força. E sentiria melhor os elefantes, as girafas, as rosas vermelhas e o vinho tinto que você enxerga nas nuvens.”
Caso se comunicassem, eu poderia (talvez) levantar meu corpo e achar nas nuvens, elefantes que sejam coloridos, girafas sem pescoço, vinho branco seco e rosas amarelas – você já sentiu o cheiro das rosas amarelas?
Mas assim seria em apenas uma condição. Se se comunicassem.

Então vou me mantendo aqui, perdido no meu quarto, sentindo uma brisa, vendo o tempo passar, aguardando um diálogo abstrato e racional entre um coração e um cérebro que não conversam, que vagueiam sem saber por onde e pulsam sem saber porquê.

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