quinta-feira, 8 de agosto de 2013

in memorian

Existem muitas coisas que são difíceis de se explicar.

Quando você não consegue se lembrar do poema que montou durante o banho.
Quando as cores se tornam mais foscas, opacas, sem brilho e sem cor. Sim, as cores ficam sem cor.
Quando as estrelas se tornam mais e as flores, menos.
Quando o trem para. Os cavalos se deitam e a boiada passa, que demora.

Você não explica o que se passa quando a boiada passa.

Tá confuso, eu sei. Mas as coisas são assim mesmo.
Deixa eu tentar te explicar.

Consegue imaginar uma menina, a sorrir, levando a vida? como pode e deve ser feito?
É uma menina linda, graciosa. Não deu trabalho aos pais. Companheirona.
Era na sua, era engraçada. Centrada, diriam muitos.
Uma flor de tão meiga.

E, de repente, assim... simplesmente, de repente...
O telefone toca e você descobre que a flor desabrochou,
as estrelas se tornaram mais.
O trem, como diria John, parou. Não era possível suportar a velocidade com que se movia.
Alguém parou o trem. Talvez um cavalo deitado no trilho.
E aí quando você descobre, a boiada está passando, bem em sua frente. E passa, que demora.

As cores se indo, vão. Até que se tornem branco e preto.
E o que era lindo, como o poema que fez no banho, se torna apenas um conjunto de palavras que vão se misturando, tentando dizer o que nunca foi dito. Ou ainda, tentando dar um último adeus.

Hoje existe uma estrela a mais. Uma flor a menos.
Hoje os anjos tocam harpas e trombetas, porque uma filha de Deus ganhou seu espaço no Céu.
Hoje, a Mãe de todas as mães, buscou uma alma e entregou (em mãos, diga-se de passagem) ao próprio Criador. Depois, desceu e veio segurar na mão da mãe que fica a chorar sem entender o que acontece.
Os homens, fortes, se enfraquecem. Porque não há virilidade que supere a saudade, que supra a necessidade. A necessidade de mais um olhar vivo, mais umas palavras, mais um silêncio, mais um monte de meiguice.

Quando chegar aí em cima, por favor... prepare a maior e mais bonita biblioteca. Com todos os seus livros preferidos, de capa dura, banhada a ouro. E com todos que você ache que eu vou gostar. Porque um dia, a gente se encontra...

Pois bem...
Existem muitas coisas que são difíceis de se explicar.
E a morte é uma delas.

RIP

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