sábado, 26 de outubro de 2024

Eu te amo-ei.

"Eu te amei" é a frase que todos os dias eu quero te dizer.
A diferença disso... dessa informação? Nula.
Mas todos os dias, na minha cabeça, eu crio coragem para te dizer "eu te amei".

Talvez a frase esteja no passado, porque acabo buscando alguma auto-preservação tosca e enganosa. Talvez porque sobre o passado eu tenha certeza. Enquanto que sobre o presente ou o futuro, eu desconheça sua completude e exatidão. 
É confuso.

"Eu te amei"... no passado da frase "eu te amo", que é o que eu gostaria de te dizer todos os dias, desde o dia que eu disse pela primeira vez. 
Porque ali, naquele momento, eu tinha certeza que eu te amava. Eu tinha a certeza que eu me perderia pra sempre no seu olhar.

"Eu te amo" é o que eu queria te dizer, também nos dias que eu "não te amasse". 
Também nos dias que a gente discutisse, que a gente se chateasse. 
Mas que mutuamente nos lembrássemos que "eu te amo" e que aquilo passaria.

Na realidade, não passou. 
E (em alguns sentidos) eu não posso mais dizer que "eu te amo".

"Eu te amo"…
também é a frase que eu gostaria de ouvir de você,
todos os dias.

sexta-feira, 27 de setembro de 2024

La verdad

La verdad és que me gustaria que nunca se hubiera acabado. Que estuviéramos juntos. Que pudiera verte a cualquier hora y cualquier momento.

La otra verdad és que me gustaria no haberte conocido. Así yo no iba a saber qué és el sufrimiento. Yo no tendría que agarrarme a la história que yo inventé para vivir sin ti.

La tercera y la última verdad és que ¡me gustaria muchísimo no haber conocido el amor!

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

A porta que eu abri.


Ouça, enquanto lê...

Havia uma porta.
No meio do nada, uma porta.
Tudo era escuridão e vazio ao seu redor.
Apenas uma porta.

Havia uma pequena escada que dava nesta porta.
Uns três degraus, eu acho. Nunca me atentei a contá-los.
A maçaneta era redonda.
E o batente, lindamente esculpido.

Não consegui mais vê-la fechada.
Abri.
O que há tanto tempo esteve trancada.
Abri.

No dia que você bateu a porta e passou a chave, eu escorreguei por ela. Chorei sozinho e copiosamente. Solucei, sem ninguém me ver. Porque é tudo escuro.
Dias se passaram e eu me levantei. Alisei a porta, como se acariciasse seus cabelos, seu rosto, sua barba.
Contei as ranhuras, como se eu pudesse contar as pintas de suas costas ou de seus ombros.
Colocava a mão sobre a maçaneta, sem rodá-la.
Olhava pela fechadura e checava por debaixo da porta.
Passos do outro lado? Bilhetes escondidos?
Qualquer sinal de que estava, então, aberta.

Semanas incontáveis foram necessárias, até que eu saísse das escadas.
Até que eu abandonasse meu posto, na escuridão.

Sequei o rosto e saí.

Virava e mexia, passeava pela porta.
Quem sabe haveria um bilhetinho esquecido por ali?

Os cenários foram mudando. E eu já não sabia mais se você tinha a chave ou se a tinha perdido. Ou, se por acaso, eu, bêbado, havia trocado as fechaduras, sem te contar.
Como você abriria a porta?
Então fiz uma cópia da chave. E passei pela fresta embaixo dela.
A verdade é que eu mesmo a abri.
Abri só um pouquinho e a deixei encostada.

Você a escancarou e me viu ali.
Meu coração palpitou, mas eu tive controle sobre tudo.
Tudo continua uma grande escuridão e eu não consigo enxergar o que há do lado daí.
Eu poderia trazer lanternas, trocar as lâmpadas, ou simplesmente entrar.
Mas acho que eu nem quero.

Só precisava da porta aberta e meia hora de papo.
Desculpe se durante a conversa eu começar a novamente olhar pela fresta ou contar as ranhuras da porta.
São velhos hábitos, que eu não entendo muito bem.

Uma pena não ter tido nenhuma carta no chão, mesmo com tanto tempo passado.
Uma pena maior não podermos conversar de verdade por meia hora.

Só não se vá de novo.

Mesmo que nunca mais venhamos à porta, vamos combinar de deixá-la aberta.
É mais confortável aceitar que não há nada do outro lado, quando eu vejo somente a escuridão através da porta, do que me questionar se foi o vento que bateu ou se foi você que passou a chave de novo.

quinta-feira, 22 de junho de 2023

Só pra encerrar.

Oi. 
Eu vim te dizer adeus.
Sonhei com você, há alguns dias. 
Depois de tanto tempo, você me visitou de novo. 
Empasmado, fiquei, quando reparei que podia ver seu rosto.
Achei que já tinha me esquecido dele.
Mas eu o vi, e ele sorria. 
Já não era pra mim, e eu já nem queria que fosse.
Ao final do sonho, você se vai, ao longe, acompanhado e aparentemente feliz.
Eu fico.
Comigo mesmo e cercado de verdadeiro amor.
Te observo distante, pensando "eu fui eu mesmo".

Acordei nesse dia, entendendo que você se foi. 
Mas que dessa vez, se despediu.

Hoje, alguém que estava comigo usava o teu perfume. 
Ou talvez algum muito similar.
Passei horas sentindo o teu cheiro. 
Lembrei que era bom.
E percebi que não doeu.
Meu coração não se acelerou, meu estômago não se revirou.
Não tive nenhum momento de surdez ou visão turva.
Foi naturalmente um dia qualquer.

Percebi que já posso te dizer adeus.
Mesmo que eu permaneça sempre aqui, junto da minha família, como uma vez te prometi.

E então, é isso.
É o que me resta dizer.

Adeus!

sexta-feira, 29 de abril de 2022

Sempre nua

Então folheio um livro qualquer, divagando sobre o que leio.
Essa poesia, escrevo como a última de minha vida. 
Cada letra ecoa e se torna parte de uma melodia,
compondo a música perfeita de uma trilha sonora.
E com o que leio, escrevo ou ouço, tento sempre refletir amor.
Portanto, quando - e se - declaro meu amor, é honesto. Da minha alma para as suas.

Afinal, isto é o que somos. Almas.

E quero a minha sempre nua, a banhar-se de sol. Com seus braços abertos, sentada ao parapeito. Sentindo-se. Lendo-se. Escrevendo-se. Sendo-se.

Entregue ao momento da nossa humilde existência, mesmo sem saber se o verei [ao sol] no alvorecer. Ainda que certo que ali, ele estará.

Chiaroscuro

A renascer
Na pintura
Na arte
Na tela
Sobre óleo

De Caravaggio
As curvas
O ângulo
A inclinação
Do corpo
Da boca
Dos olhos

De escuridão
Uma vida
Aqui
Remanescente
Renascente
Renascentista.

Sobre os trilhos

Caminhando com a alma embriagada de felicidade, me tenho como par, nessa valsa incessante e findável. Piso no contratempo, respiro em suas pausas, faço minhas piruetas no clímax que recebo da melodia vital que ecoa em mim.
Vou me equilibrando nos trilhos. Pé ante pé. Sem a menor pista do meu destino, que ilusoriamente, eu mesmo traço. 
Afinal, o maquinista não sou eu. Mas eu escolho se aguardo na estação ou se sigo bailando sobre os trilhos, até chegar o próximo trem!